A leitura como forma de estreitar os vínculos afetivos entre pais e filhos

Diante de tantas mudanças e das rápidas transformações na vida de todos nós, é fundamental buscar um tempo para refletir sobre a qualidade das relações, principalmente daquela que construímos todos os dias com nossos filhos.

Os primeiros anos de vida de uma criança são essenciais para um desenvolvimento saudável. Por isso, o afeto e o cuidado dedicados ao bebê desde o nascimento vão influenciar o tipo de vínculo afetivo que será estabelecido. À medida que a criança cresce, suas necessidades vão se ampliando e o vínculo se solidificando.

Uma das maneiras de intensificar os vínculos afetivos entre pais e filhos se dá por meio da leitura. Essa dinâmica interativa e amorosa é fonte de grande prazer para a criança. Pais que leem para os filhos ajudam a estimular os sentidos da criança, proporcionam bem-estar, elevam sua autoestima e estimulam suas habilidades cognitivas. Para isso, é essencial criar um ambiente no qual a criança associe os livros e as histórias a momentos prazerosos. Mesmo que a criança esteja em uma idade em que não consiga compreender totalmente o que vê no livro, ainda assim é extremamente valioso, porque esse momento prazeroso proporciona segurança, desenvolve a criatividade e amplia seus repertórios visual e linguístico.

A leitura pode ser iniciada já com os bebês. Nos dois primeiros anos de vida, eles são conquistados com livros cheios de figuras, e sua atenção é voltada para as ilustrações, além da interpretação que o contador faz da história. Entre 3 e 4 anos, a criança já é capaz de compreender a história e participa ativamente dela, questionando, interagindo e se identificando com as personagens. A partir dos 5 e 6 anos, a criança entra na etapa de alfabetização escolar. Nesse período, a criança que foi estimulada desde cedo para a leitura adquire melhores condições de se preparar para a aquisição da linguagem e da escrita. Ela se interessa pelo universo letrado e tenta ler o mundo à sua volta. Isso é enormemente facilitado pelo contato anterior com as histórias. A partir dos 7 anos, a leitura de livros começa a fazer parte de sua rotina escolar e a escola passa a ser uma grande parceira para a formação do futuro leitor.

Tão importante quanto a leitura, é a classificação adequada do livro à idade da criança. Por meio das histórias, das lendas, contos e poesias, mobiliza-se na criança diversos sentimentos despertados pelo enredo. Nesse sentido, deixar que a criança participe da escolha dos livros é importante para que ela se identifique com a história e esteja motivada a embarcar nesse momento de fantasia e imaginação.

Vale ressaltar que o aprendizado na infância está associado a momentos de prazer. Por isso, o tipo de estímulo não é tão importante quanto a forma como ele é oferecido. É preciso que se estabeleça contato, cumplicidade. O afeto e a disponibilidade dos pais em dedicar esse tempo aos filhos para a contação é determinante na criação do hábito da leitura que, além de ser uma excelente oportunidade de estreitar os laços, proporciona a maravilhosa experiência da convivência familiar, da aproximação e da vivência intensa do amor. Destinar um tempo para que a criança também faça a leitura de um livro para os pais pode ser muito interessante. Ela se sentirá importante e aquele momento lhe proporcionará grandes aprendizados.

Os pais também podem desenvolver a capacidade de criar histórias, inventar enredos e personagens. Isso exigirá que eles se apropriem da história a ser contada, aproximando-os ainda mais. Se for a criança a narradora da história, oferecer objetos ou bonecos pode ajudá-la a elaborar melhor sua narrativa.

O encantamento dos pequenos aumenta quando a leitura se torna um ritual diário. Não importa o horário em que isso aconteça, seja antes de dormir ou após o banho, por exemplo. Esse ritual transmite um repertório emocional para as crianças, pois é um momento de afeto que se repete todos os dias. A criança passa a aguardar por esse momento, que pode ser aproveitado para ser estendido para uma conversa sobre o dia, sobre a rotina ou para o estabelecimento de combinados. Para isso, os livros também podem ajudar. Quando a intenção for ler uma história para ajudar a criança a lidar melhor com uma situação específica, basta escolher histórias que trabalhem os temas pertinentes à situação. É válido destinar um tempo para que a criança se demore nas ilustrações ou conversar depois de determinadas partes.

Uma vez que a leitura faça parte da rotina das crianças, não se surpreenda que os pequenos queiram a mesma história todos os dias. Isso acontece porque eles tendem a querer repetir momentos de grande prazer e isso só reforça como eles estão envolvidos e entusiasmados por esse universo mágico e encantador da literatura.

* Maria Elaine Cambraia é psicóloga, escritora e palestrante. Fez várias especializações na área de desenvolvimento infantil, trabalhou por muitos anos na área educacional, ministrou cursos e formações continuadas para professores, criou o grupo “Pais Nota 10” e ministrou palestras em vários congressos pelo Brasil. É autora dos livros Mania de rima, A corujinha curiosa e Brincando de bicho pela Franco Editora e O protesto das bruxas e Bruxa Pituxa pela Editora Elementar.

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