Relato de parto humanizado: Marina Issa

Olá leitoras do Sou Mãe, antes de começar a falar sobre parto humanizado e contar minha experiência, gostaria de agradecer o convite da Gisele para falar sobre esse assunto que eu amo e vou me apresentar. Sou a Marina Issa, mãe da Isabella de 1 ano e 5 meses, sou escritora do blog Maternizi, e do instagram @maternizi, ambos surgiram com a chegada da Isa, e a chegada dela foi em um lindo parto natural humanizado e respeitoso.

Antes de falar do meu parto, precisamos entender o que é parto humanizado, e diferente do que muita gente acha, não é um tipo de parto, e sim uma forma de parto, os tipos de parto são normal, natural e cesariana. E todos esses tipos podem ser humanizados.

Humanização é basicamente respeitar as vontades, o tempo, a mãe e o bebê, é simplesmente respeitar o nascer.

O parto humanizado não é modinha, não é mimimi, é algo que deveria ser óbvio, mas infelizmente não é.

Com os avanços da medicina tudo foi ficando cada vez mais automatizado, mais seqüencial, sem empatia, sem olhar o ser que está ali. E a humanização tenta trazer isso de volta.

Sabe quando a gente vê um filme que o médico da família ia na casa das pessoas e olhava o paciente todo, conversava e só aí dava um diagnóstico? Isso era humanizado, sem pressa, com olhar atento naquele paciente, naquele ser humano que estava ali e é único.

Hoje todo mundo virou número, virou estatística, deixamos de ser únicos para virarmos todos.

E a humanização no parto, busca isso, olhar pra aquela mulher como única, como protagonista daquele momento único na vida dela, onde as decisões dela devem ser respeitadas, ninguém pode tirar o protagonismo dessa mulher.

Eu sou fisioterapeuta especialista em saúde da mulher, e por essa formação eu sempre desejei que meu parto fosse normal e de forma humanizada, que minhas escolhas fossem ouvidas e atendidas, que eu tivesse liberdade durante meu trabalho de parto, que eu pudesse andar, comer, falar, dançar, gritar, enfim, fazer o que me desse vontade naquele momento que era só meu e da minha filha.

Infelizmente para se ter isso no Brasil ou é com sorte, ou pagando. A grande maioria dos médicos principalmente de convênios não são humanizados, são cada vez mais robotizados e tratam os pacientes como se fossem peças em uma indústria, todo mundo igual e um atrás do outro.

Eu graças a Deus achei uma equipe fantástica que me deu todo apoio que eu precisava para ter meu desejo realizado, meu parto foi com a equipe do “Parto sem Medo”, é uma equipe multidisciplinar, onde tem doulas, enfermeiras obstétricas, médicos obstetras, anestesistas, psicólogos, nutricionistas, pediatras.

Eu nunca fui muito radical, de querer o parto natural (sem intervenções químicas) a qualquer custo, sempre deixei claro, que se eu quisesse e não agüentasse de dor era para me dar anestesia independente do que eu gritasse (no trabalho de parto perdemos a noção das coisas, entramos na partolândia que chamam).

Mas para a minha surpresa eu agüentei todos os momentos bravamente, e foi a experiência mais louca e maravilhosa da minha vida.

Não vou ser hipócrita e dizer que não doeu, claro que doeu, mas juro pra vocês que não lembro de ser uma dor tão absurda assim. Segundo alguns especialistas nosso cérebro esquece a intensidade da dor por termos a recompensa do bebê em nossos braços após o trabalho de parto. É como se a gente esquecesse o quão forte foi a dor.

Mas vamos ao dia do parto, eu estava de 39 semanas e 2 dias, em um domingo de manhã quando acordei com umas cólicas bem fraquinhas, nesse dia fomos passar o dia em uma cidade vizinha a São Paulo, Itu, passei o dia andando, subi e desci escadas, conversei um monte, perto da hora do almoço que eu me toquei que aquelas cólicas não tinham sumido e tinham aumentado um pouco, mas como estava bem tranqüilo, fomos almoçar, estávamos em família, meus pais, meus sogros, meus cunhados, todo mundo, mas já tínhamos decidido que não contaríamos nada pra ninguém, só quando ela nascesse, e esse é um conselho que dou para quem quer parto normal, a ansiedade da família só atrapalha o processo.

Durante o almoço eu comecei a cronometrar as contrações pelo aplicativo que minha enfermeira obstetra tinha recomendado, e as contrações estavam leves mas vindo a cada 7-8min.

Quando acabou o almoço meus pais queriam continuar a passear, mas eu meu marido preferimos vir embora com a desculpa que eu estava cansada, afinal estava mega barriguda.

Chegamos em casa por volta das 17hs, as contrações começaram a aumentar e a diminuir o tempo entre elas, conversamos com a doula e a enfermeira e elas me orientaram a descansar e me alimentar, fui então tentar dormir, e consegui por quase 2hs.

Por volta das 19hs acordei belisquei alguma coisa na cozinha e as dores começaram a aumentar, meu tampão mucoso (membrana que fecha o colo do útero) começou a sair e eu estava entrando em trabalho de parto ativo, mas ainda muito no começo, fiquei andando pela casa, deitava, sentava, levantava, dançava, enfim fiquei me movimentando o quanto pude para aliviar, as dores não eram absurdas, eram mais incomodas.

Fiquei algumas vezes debaixo do chuveiro sentada na bola de pilates, ali me aliviava muito, e em todo esse processo meu marido estava comigo, me fazia massagem, me servia de apoio para as costas, ajudava a me enxugar, enfim, participou ativamente de todo o processo.

Por volta das 3:30hs já da segunda-feira, eu lembro que senti o ápice da dor e pedi para ir pro hospital, e o Igor, meu marido, estava o tempo todo em contato com a doula e a enfermeira, e elas disseram que estavam indo pra casa, quando elas chegaram a Thais, minha doula, fez um chá de canela maravilhoso, lembro até hoje o sabor dele.

A Camila, minha enfermeira obstétrica, fez o exame de toque e eu estava com 5 cm de dilatação, como já era 5hs da manhã da segunda achamos melhor ir para o hospital com medo de pegar trânsito. Chegamos em 30min.

Já fui pra sala de triagem e lá a enfermeira do hospital viu que eu já estava com 7cm e estava evoluindo rápido.

Fiquei na banheira no delivery room do Hospital São Luiz Itaim, o Igor sempre ao meu lado, a Thais e a Camila iam e voltavam para ver como eu estava, minha bolsa estourou dentro da banheira.

Por volta das 8hs minha médica chegou, avaliou e viu que a cabeça da Isabella já estava coroando (já estava dando pra ver), ela falou pra eu tocar, mas sinceramente eu não senti nada hahaha, nisso ela me sugeriu sair da banheira e ir para a banqueta, sentei na banqueta, fiz 3 forças e as 8:26hs da segunda feira dia 02/10/17 nasceu minha Isabella, depois de uma noite toda em sintonia comigo, fazendo nosso trabalho juntas, ela veio ao mundo, saudável, linda com 42cm e 2.860g.

Mamou logo após cortar o cordão e ficou comigo por 1 hora. Depois foi para os procedimentos.

Posso dizer que é uma experiência louca, que quando acabou eu me senti muito forte, muito capaz de tudo, em português bem claro, eu me senti muito FODA. Agradeço muito por toda a minha equipe, pelo meu marido que sempre esteve ao meu lado.

Eu estudei muito para ter o meu parto dos sonhos, busquei muita informação, li muito sobre o assunto, fui a muitas rodas de gestantes.

Indico muito os filmes, O Renascimento do parto 1,2,3, são ótimos para entendermos todo o processo, nossos direitos, o que é violência obstétrica, respeito ao bebê que acabou de chegar ao mundo, enfim, são documentários muito esclarecedores.

E meu maior conselho para quem quer um parto humanizado é buscar informação, buscar conhecimento, não se deixe enganar por lorota de médicos que querem praticidade e automatização das coisas.

Quem quiser mais informações a respeito do assunto, tem vários textos no meu blog ou pode me procurar no insta que estarei aqui para ajudar.

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